domingo, 1 de agosto de 2010

VERTIGEM

Caía um temporal.
De longe,
o menino feio
vía pela vidraça translúcida
uma luz bem longe.
Que achava ser a casa de caramelo
onde morava sua Avó.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

RESCUE REMEDY

Desta densa viagem talvez eu não volte.Todos me perseguem, todos! Olho para as paredes e sempre tem um quadro com dois buracos nos olhos me olhando, me perseguindo.A loucura desses dias somente se compara ao estapafúrdio de dentro de mim. Ao meu tentar dar significado, me perco em avenidas, subidas, floresta, músicas, perfumes, e gestos. È como se eu tentasse reviver o que não vivi, voltar a ser o que de fato nunca fui.A solidão dói. Mas ela é inerente a esta viagem,insólita,tenebrosa e necessária.Quero partir completo, ou melhor, incompleto com o que resta de mim ou com tudo que penso que resta.
Lembro dos feixes de luz dourada, da cor perfumada, dos delírios bem-vindos. Sinto uma profusão de coisas. Desastres aéreos,tufões,memórias partidas, amores de velcro.Subo e desço ladeiras e busco nos bambuzais um Saci, uma Hamadríade, ou qualquer outro desse seres que existem em bambuzais.Quero prende-los para comprovar sua existência.Como qualquer Ser-humano necessito disso: Prender para ter certeza de sua palpabilidade.
Um dia , todos dirão Adeus. E será Adeus mesmo.De certa forma estamos sempre partindo. Aos pedaços, apodrecendo á cada dentada. Não é assim? Apodrecer não é a lógica? Então apodreço antes, mas não nasci podre como alguns. Esses tontos perigosos dotados de uma avidez para massacrar o devaneio alheio, o sonho descabido; A pretensão onírica.
Falo assim veloz, para não enlouquecer e não morrer dentro de mim mesmo.Cheiro do Tâmisa, Vauxhall, o Chá engordurado.O desespero de outras vidas que não tive. Tente quebrar meu coração, porque na verdade só tenho restos adormecidos de lexotam e ressaca de fúria contida. Tenho obrigação de conter fúrias. Par-ci-mô-nia., soletro para não esquecer que devo ter e ser a Little lamb, pronto pro sacrifício dos bons cristãos. Não sou vítima, tenho que romper com esse carma que trouxe comigo quando vim de Netuno. A sombria aura eterna de sempre-vítimas. Pisces. Sombra e desagregação. Piscina de soníferos e Cloridrato de Bupopriona. Isso sim, me salva de mim. Som-pop- sintético-fanstamasgórico de Gary Numan.
Ônibus vazio, como sempre um autismo imposto.Sombras travestidas de sorrisos ingênuos. Matar ,dá vontade. Mas nada disso. É apenas uma conjunção Plutão-Sol, fazendo com que máscaras caiam e que mudanças amedrontadoras e necessárias eclodam. A cobra morde a própria cauda, hermafrodito, Oxumaré. Adoro mitologias, elas me salvam.Fadas ,Duentes, Elfos ,Gnomos, no more. Alguém sussurra no meu ouvido algo que eu sempre soube: To Rescue, nobody never comes.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

NÃO CONECTIVIDADE


De todos as minhas sensações, a que mais me mobiliza agora é a de não conectividade, que nada tem a ver com a conectividade da chamada pós modernidade,mas sim é uma espécie de incômodo não decifrável. Talvez porque eu não consiga decifrar ou por não querer decifrar por doer demais. É como se eu tivesse perdido o último ônibus que não me levaria a lugar nenhum, que eu só pegaria por não ter outra estrada pra fugir, querer fugir de tempos maus, de re-memórias , de presságios nefastos que crio nas madrugadas insones e tontas de soníferos que não fazem mais efeito.
Sinto o vento úmido da praia carregado de sal e sinto algo mais que o vento , a areia e o sal. Sinto algo, completamente desconexo que sei e não sei que é. Seria como uma hiperestesia auto destrutiva, uma hiper –lucidez tonta de desamparo e induções fisiológicas artificiais, obrigando minhas sinapses a descansarem , diminuir o ritmo. Everything under control...... This is my impossible & sweet dream..
Pílulas azuis e púrpuras. Chás, orações para carneirinhos santos que trazem em um trenó o Deus Hypnos,ou até mesmo Morpheus, que há tempos me abandonaram,.em meio a uma tempestade de tudo.
Tenho saudade das garagens, do gramado de minha bicicleta preta - Eu era o único que tinha uma bicicleta preta. Presságio ? Ou repetição Freudiana ?
Eu costumava a dormir nas nuvens, a viajar na janela da sala de aula indo para lugares que só existiam na minha cabeça.Hoje acho que por hábito balsâmico ainda faço isso, ávido, tonto e ineficaz., Solto completamente solto. À deriva, tábua rodando em algum redemoinho lamacento do rio Maracanã. Solto,aos pés de alguma divindade imaginária pedindo, que me tirem daqui,de dentro de mim- Caos patético e absoluto.
Olho para traz e vejo Yemanjá, me oferecendo seu colo quente para que eu durma e sonhe com mares calmos, nuvens brancas e todas essa coisas que a gente sonha para não enlouquecer.Vou., antes que seja tarde demais Mesmo que tudo seja fruto da minha imaginação. Mesmo que ingênuo e trôpego, eu tente me equilibrar entre dias e noites. Mesmo que nada disso exista e tudo continue insanamente aceso.

domingo, 26 de abril de 2009

Canção dos Seres Elementais


Ainda não sei, quando o Avião pousa no Galeão, qual é a sensação exata que sinto. Se é uma saudade adocicada, se é a expectativa de rever amigos, se é a necessidade de simplesmente respirar aquele ar meio “fog” de terceiro mundo, de monóxido de carbono, a poluição doída e irreversível da Baía de Guanabara, misturado ao verde que ao longe avisto na pedra da Tijuca, pela fresta que a Avenida Brasil rasga, mostrando o verde intenso no qual o Rio dos privilegiados está imerso.

Vou ao Rio e sinto saudade. Saudade de uma época idílica onde eu sequer supunha a existência de perda e morte. Uma época onde as pessoas que fizeram parte da minha vida ainda não tinham morrido, nem enlouquecido e nem perdido o vínculo afetivo comigo, que para mim era tão caro, tão essencial.

Sinto uma angustia em ver que tudo mudou, as pessoas que continuam vivas sequer têm tempo para rememorar vínculos e se reabstecer daquilo que eram, do mais bonito que eram.

Vejo prédios, que continuam intactos, mas cheio de pessoas outras que não são mais as mesmas de antes, que já se foram para outras pairagens, como eu fui. Os edifícios, as casas onde vivi e passei continuam de pé, imponentes indiferentes à crueldade ambígua do tempo.

Sinto uma melancolia em saber que nunca mais verei tudo como era antes, imerso em uma arrogância de que o tempo e seu movimento contínuo congelariam o cenário de quando eu tinha 18 anos e vivia rodeado por Gnomos, Elfos, Fadas, Salamandras, Harpias, Magos e outros seres que me protegiam de ver a existência de Tânatos e sua inexorabilidade.

Ontem fui até as Paineiras, subi o Alto da Boa Vista de ônibus só para tentar ver ou me encontrar com esses Seres. Infelizmente não consegui vê-los. Só senti a presença deles e seus odores de ervas amassadas, mirra, sândalo, alecrim, artemísia, cravo e morangos. Sabia que estavam todos lá, perfilados, me olhando, sorrindo.

Fiquei feliz em saber que ainda estão lá... que não morreram e nem enlouqueceram. Isso me aliviou. Ao longe ouvi um sussurro dizendo “dorme meu filho, não existe dor, só o sonho” e após isso ouvi um solo de flauta, que sempre ouço nos momentos mais difíceis da minha vida.

Desci o Alto da boa vista inebriado e cantarolando alguma canção antiga e indecifrável, que eu conhecia, mas ao mesmo tempo não, Talvez fosse essa, a canção dos Gnomos, Elfos, Fadas, Salamandras, Harpias, magos e outros serem que me protegiam, e até hoje, mesmo sem que eu saiba, me protegem.

domingo, 19 de abril de 2009


STOP ME IF YOU THINK HEARD THIS ONE BEFORE


Acho muita exposição falar assim de coisas que se escondem em um dos meus porões. Coisas tão vivas e ao mesmo tempo tão antiquadas, que não tem mais razão de existir. Coisas cheias de sentimentos e emoções parcialmente mofadas, mas, ainda vivas, prestes a sair pela Aorta, fazendo o caminho contrário: Sair pela aorta e se espalhar por todo meu corpo.
Falo do Reino dos Czares,que sempre conseguem tudo que querem,Czares enlouquecidos em sua dor de ter tido e não ter mais, depostos do trono idílico do amor e do que esperam de nós e de si mesmos. Invisíveis por não conseguirem ter sido o que queriam, mas sim o que lhe foi dado.
Hoje é pra você que escrevo, Czar- de –classe- média -carioca e cheio de sonhos impossíveis e arrogantes e quiméricos. Czar que não soube bem o que fazer com seu cetro e coroa e que acabou sendo deposto e esquecido em sua própria vaidade e loucura.
Tenho lembranças desse Czar, que só eu enxergava que ele era um Czar, e que nem ele –apesar de agir e viver como um Czar - também não supunha isso. Nada reparava, a não ser sua coroa e seu cetro.
Eu mesmo reparando tudo, mesmo não entendendo tudo, o amava. Era um amor incompreensível, mas fidelíssimo e, para usar o superlativo, crudelíssimo também.
Sinto sua existência, ainda que parasitária, vivendo arfante a pular entre a minha mitral e o meu ventrículo esquerdo. Mas eu prefiro os porões, os calabouços, os órgãos inacessíveis. Eu em minha banalidade não consigo fazer com que ele fique preso em meus poros cardíacos. Talvez por ser da natureza dos Czares aparecer abruptamente, não para assombrar, mas para doer, para mostrar o quanto dói impossibilidade de reinar junto com ele, de ser protegido por sua Capa macia.

Chove lá fora, e a sua impossibilidade pretérita me dói. Mas, estou seguro em minha torre de mármore. Altíssima & inacessível. Ouvindo, completamente entorpecido de tudo, Imaginary love na voz de Rufus Wainwhrite, até que eu durma e sonhe com Dragões.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

FERRUGEM

Tempo nublado.Um ar meio úmido , espesso com gotículas de sal poluído do porto feio de uma cidade que serpenteia por entre monólitos ,e tenta -com um desespero escondido- entender e compassar sua lógica , seu funcionamento.No denso disso tudo,me vem sempre a inevitável lembrança do verde. verde dos morros, dos limos corroendo os prédios e explicitando uma velhice descuidada, blasê e criminosa.O que me conforta no verde disso tudo é o verde -esmeralda dos teus olhos que me acompanham, me ajudando a tentar rir o riso alheio, porque o meu..... aqui não.A pobreza dessa cidade me comove. o Corroer dessa cidade me petrifica. Aqui parece que tudo oxida, catalizado pela extrema falta de algo que ainda não identifico o que é. Seu sorriso e seu verde contrastam com a dissolução de tudo que vejo aqui.Amo vc ,e a distância ácida- ferruginosa amplificam e evidenciam isso. Vitoria, is so much to answear for...... Find me and nothing more.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A PRIMA DE UM AMIGO MEU


Um grande amigo meu tem uma prima. Uma pessoa relativamente comum, com algumas peculiaridades raras , como qualquer um de nós.Essa prima desse meu amigo namorava com um rapaz desde a adolescência.Primeiro beijo, primeiro homem , primeiro amor, primeiro tudo.Ela, encantada, inebriada com Eros e suas artimanhas ignorava a existência do reverso de tudo, da perecibilidade de tudo. Eles passaram juntos uns 8 anos e toda a adolescência. Ele era mais racional, mais decidido, e ela o inverso.Isso era bonito de se ver porque os dois se complementavam de certa forma.Todos tinham uma certa-secreta -inveja daqueles dois.Todo mundo achava que iriam se casar e fazer todas aquelas coisas que pessoas bem casadas fazem.Todo mundo os acompanhava como quem acompanha um casal-herói -de- uma -telenovela das- oito, certos de que haveria um happy end.
Só que para desespero de todos e da prima- desse -meu -amigo, o namorado- da prima -desse- meu -amigo, deu pra traz e de maneira contra -hegemônica terminou o relacionamento e resolveu enveredar por outros caminhos.As pessoas que acompanhavam, obviamente como todo telespectador , ficaram perplexas e nao entenderam a descisão. Ela ( a prima -do- meu- amigo)atônita, mesmo supondo anteriormente que o fim estava próximo, tentava resgatar, recomeçar uma relação que pereceu pelo efeito do tempo e de outros remédios amargos.
Isso me fez pensar o quão atros é o amor;Ele nos faz florir, e mostrar o melhor de nós pra depois de um certo tempo perecer e nos dilacerar.O amor por mais que seja sublime dói. E às vezes qual areia movediça nos faz permanecer estáticos e a qualquer movimento.... plac! afundamos mais um pouco.
Às vezes , em meus tolos pensamentos ,penso que o amor é crudelíssimo, porque quando acaba nos faz amar alguem que só existe na nossa cabeça. Alguem que físicamente está ausente. E sofremos por isso , por esperar por alguem que nunca chega e que nunca mais chegará..São dias a fio remoendo, lembranças , relendo cartas, revendo fotos e esperando uma volta.
A-prima -de-um -amigo-meu até hoje espera a volta deste amor. Qual Aguirre na busca insana do Eldourado, qual alguem tentando achar um pote de ouro no fim do Arcoiris.
Eu , como todo e qualquer mortal, tambem caio nessas armadilhas de Eros. Um Eros sombrio , que roubou o Elmo da invisibilidade de Hades. Sempre ando distraído e sou presa fácil .Quase sempre esse Eros Sombrio e invisível me flecha. E aí não tem outro remédio senão ir ao paraíso para depois comer a romã dos mortos e descer aos infernos.