domingo, 26 de abril de 2009

Canção dos Seres Elementais


Ainda não sei, quando o Avião pousa no Galeão, qual é a sensação exata que sinto. Se é uma saudade adocicada, se é a expectativa de rever amigos, se é a necessidade de simplesmente respirar aquele ar meio “fog” de terceiro mundo, de monóxido de carbono, a poluição doída e irreversível da Baía de Guanabara, misturado ao verde que ao longe avisto na pedra da Tijuca, pela fresta que a Avenida Brasil rasga, mostrando o verde intenso no qual o Rio dos privilegiados está imerso.

Vou ao Rio e sinto saudade. Saudade de uma época idílica onde eu sequer supunha a existência de perda e morte. Uma época onde as pessoas que fizeram parte da minha vida ainda não tinham morrido, nem enlouquecido e nem perdido o vínculo afetivo comigo, que para mim era tão caro, tão essencial.

Sinto uma angustia em ver que tudo mudou, as pessoas que continuam vivas sequer têm tempo para rememorar vínculos e se reabstecer daquilo que eram, do mais bonito que eram.

Vejo prédios, que continuam intactos, mas cheio de pessoas outras que não são mais as mesmas de antes, que já se foram para outras pairagens, como eu fui. Os edifícios, as casas onde vivi e passei continuam de pé, imponentes indiferentes à crueldade ambígua do tempo.

Sinto uma melancolia em saber que nunca mais verei tudo como era antes, imerso em uma arrogância de que o tempo e seu movimento contínuo congelariam o cenário de quando eu tinha 18 anos e vivia rodeado por Gnomos, Elfos, Fadas, Salamandras, Harpias, Magos e outros seres que me protegiam de ver a existência de Tânatos e sua inexorabilidade.

Ontem fui até as Paineiras, subi o Alto da Boa Vista de ônibus só para tentar ver ou me encontrar com esses Seres. Infelizmente não consegui vê-los. Só senti a presença deles e seus odores de ervas amassadas, mirra, sândalo, alecrim, artemísia, cravo e morangos. Sabia que estavam todos lá, perfilados, me olhando, sorrindo.

Fiquei feliz em saber que ainda estão lá... que não morreram e nem enlouqueceram. Isso me aliviou. Ao longe ouvi um sussurro dizendo “dorme meu filho, não existe dor, só o sonho” e após isso ouvi um solo de flauta, que sempre ouço nos momentos mais difíceis da minha vida.

Desci o Alto da boa vista inebriado e cantarolando alguma canção antiga e indecifrável, que eu conhecia, mas ao mesmo tempo não, Talvez fosse essa, a canção dos Gnomos, Elfos, Fadas, Salamandras, Harpias, magos e outros serem que me protegiam, e até hoje, mesmo sem que eu saiba, me protegem.

domingo, 19 de abril de 2009


STOP ME IF YOU THINK HEARD THIS ONE BEFORE


Acho muita exposição falar assim de coisas que se escondem em um dos meus porões. Coisas tão vivas e ao mesmo tempo tão antiquadas, que não tem mais razão de existir. Coisas cheias de sentimentos e emoções parcialmente mofadas, mas, ainda vivas, prestes a sair pela Aorta, fazendo o caminho contrário: Sair pela aorta e se espalhar por todo meu corpo.
Falo do Reino dos Czares,que sempre conseguem tudo que querem,Czares enlouquecidos em sua dor de ter tido e não ter mais, depostos do trono idílico do amor e do que esperam de nós e de si mesmos. Invisíveis por não conseguirem ter sido o que queriam, mas sim o que lhe foi dado.
Hoje é pra você que escrevo, Czar- de –classe- média -carioca e cheio de sonhos impossíveis e arrogantes e quiméricos. Czar que não soube bem o que fazer com seu cetro e coroa e que acabou sendo deposto e esquecido em sua própria vaidade e loucura.
Tenho lembranças desse Czar, que só eu enxergava que ele era um Czar, e que nem ele –apesar de agir e viver como um Czar - também não supunha isso. Nada reparava, a não ser sua coroa e seu cetro.
Eu mesmo reparando tudo, mesmo não entendendo tudo, o amava. Era um amor incompreensível, mas fidelíssimo e, para usar o superlativo, crudelíssimo também.
Sinto sua existência, ainda que parasitária, vivendo arfante a pular entre a minha mitral e o meu ventrículo esquerdo. Mas eu prefiro os porões, os calabouços, os órgãos inacessíveis. Eu em minha banalidade não consigo fazer com que ele fique preso em meus poros cardíacos. Talvez por ser da natureza dos Czares aparecer abruptamente, não para assombrar, mas para doer, para mostrar o quanto dói impossibilidade de reinar junto com ele, de ser protegido por sua Capa macia.

Chove lá fora, e a sua impossibilidade pretérita me dói. Mas, estou seguro em minha torre de mármore. Altíssima & inacessível. Ouvindo, completamente entorpecido de tudo, Imaginary love na voz de Rufus Wainwhrite, até que eu durma e sonhe com Dragões.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

FERRUGEM

Tempo nublado.Um ar meio úmido , espesso com gotículas de sal poluído do porto feio de uma cidade que serpenteia por entre monólitos ,e tenta -com um desespero escondido- entender e compassar sua lógica , seu funcionamento.No denso disso tudo,me vem sempre a inevitável lembrança do verde. verde dos morros, dos limos corroendo os prédios e explicitando uma velhice descuidada, blasê e criminosa.O que me conforta no verde disso tudo é o verde -esmeralda dos teus olhos que me acompanham, me ajudando a tentar rir o riso alheio, porque o meu..... aqui não.A pobreza dessa cidade me comove. o Corroer dessa cidade me petrifica. Aqui parece que tudo oxida, catalizado pela extrema falta de algo que ainda não identifico o que é. Seu sorriso e seu verde contrastam com a dissolução de tudo que vejo aqui.Amo vc ,e a distância ácida- ferruginosa amplificam e evidenciam isso. Vitoria, is so much to answear for...... Find me and nothing more.